quinta-feira, novembro 21, 2024
Marketing

Venda de Filhote Castrado

O Problema

O problema de animais abandonados é extremamente sério em países em desenvolvimento e, em especial, no Brasil. A venda de filhote castrado pode ajudar a solucionar o problema?

O abandono de animais causa uma certa tensão entre os criadores e as pessoas que trabalham para minimizar os impactos dos cães e gatos de rua.

Essas pessoas tendem a acusar os criadores de serem causadores desse problema. Entretanto sabemos que a quantidade de animais de rua que são de raça representam uma pequena fração dos animais abandonados.

Além disso, alega-se que as pessoas que compram animais de raça deveriam adotar, ao invés de comprar. Entretanto sabemos que quem deseja um animal de raça, não irá adotar um.

Também sabemos que os cães abandonados, de certa forma, tem uma origem remota nos cães de raça.

Não é incomum que um proprietário, ao comprar um animal de raça, deseje acasalá-lo por diversas razões:
– “Para ter um descendente dele”
– “Para pagar a ração”
– “Para tirar um dinheirinho”
– “Para depois castrar”
– “Porque é o instinto”
– etc.

Acasalamentos, feito pelo proprietário, são, em muitas vezes a causa raiz de termos muitos cães de rua hoje em dia.

O leigo, ao ter uma ninhada, poderá ficar com um ou outro filhote e dar destino aos demais animais. Ou vendendo ou doando… e aí o ciclo volta a ocorrer. O próximo dono, na maioria das vezes, vai reproduzir esse animal. De forma intencional ou de forma não intencional.

A cada vez que ocorre um acasalamento, o valor do filhote é reduzido, mas o interesse da população em ter um animal de raça permanece.

Em um determinado momento, os filhotes são doados ou vendidos por valores baixos. O que não gera percepção de valor por parte desses proprietários. Muitas vezes, embora tenham donos, esse animais tem acesso à rua e não estão castrados… logo, o problema vai aumentando.

Isso sem nem mencionar as missigenações que ocorrem nesse processo. Mas os donos continuam a vender ou doar como se fossem puros. Não importando se as características físicas ou comportamentais já estejam bem diferentes.

O exemplo dos Gatos

Você pode pensar: “Ah! Mas a maioria dos gatis vendem castrados e existem gatos de rua!”. Com certeza! Mas quantas vezes você viu um gato de raça na rua? Um Main Coon, um bengal (puro), um exótico,…? Muito difícil, né?

Os gatos tem uma dinâmica diferente dos cães. Eles se movimentam com muito mais dinâmica pelas cidades e são muito mais eficientes quando se trata de acasalamentos.

Eles tendem a se multiplicar com mais eficiência que os cães, portanto, um casal de rua consegue em pouquíssimo tempo gerar uma quantidade significativa de filhotes. Algo que os cães tem mais dificuldade quando há um mínimo de controle.

Mas mesmo assim, como mencionei, é muitíssimo raro ver gatos de raça pura perambulando pelas ruas. As pessoas ao comprarem os gatos sabem que se os gatos de raça foram para a rua, não irão voltar, portanto tendem a mantê-los mais confinados.

Além disso, a quantidade de gatis que já tem a prática de venda de filhote castrado é bem significativo.

Isso de fato ajuda a minimizar em muito o problema. Obviamente não é a solução definitiva, mas é uma contribuição extremamente válida e deve ser mantida!

Sabemos que o problema é a falta de conscientização humana, mas reduzir a quantidade e a possibilidade de que o problema surja melhora muito.

Cultura Canina

Já com os cães, ainda há uma dificuldade significativa por parte dos criadores e dos futuros proprietários em implementar a mesma prática.

Não vou entrar no mérito das vantagens da castração, isso pode ser detalhado aqui.

Alguns criadores não tem hábito por várias razões:

  • é difícil saber se o filhote não será um bom exemplar que possa ser usado na criação futuramente;
  • aumenta os custos;
  • tem dúvidas quanto à castração precoce;
  • os clientes não aceitam;
  • tem medo da cirurgia;
  • aumenta o tempo para ficar com o filhote;
  • alguns veterinários não aconselham castrar muito jovem,
  • etc.

Alguns proprietários não aceitam pagar valores altos por um animal castrado, ainda mais que o criador “ao lado” vende pelo mesmo valor e não castrado.

Portanto, é um desafio muito maior para o criador de cães incluir a prática de venda somente castrado.

Entretanto, para o criador que faz a venda de filhote castrado, poderá vender um filhote não castrado por um valor significativamente maior. Filhotes “inteiros” teria o objetivo de serem padreadores e matrizes, logo, teriam o intuito comercial, logo, de maior valor agregado.

Dificuldades para Castrar

Custos

Para fazer uma castração segura, é necessária uma cirurgia. E não se recomenda que uma cirurgia seja feita antes de 2 meses, nos melhores casos. Logo, o criador teria de ficar com o filhote, no mínimo 2,5 a 3 meses.

Além do mais, o custo de uma cirurgia é alto. Poderia ser facilmente o maior custo agregado ao filhote. Logo, estaríamos falando em aumento de preço dos filhotes.

Esse custo teria de ser repassado ao cliente, o que poderia fazer com que o criador perca um pouco de competitividade em termos de valores.

Se você já tem o CVF definido, você deverá avaliar o impacto da cirurgia nele.

Riscos

Quando falamos em cirurgia, tudo pode ocorrer. Em geral cirurgias de castração são rotineiras e seguras, mas por mais segura que seja, sempre existe um risco associado.

Imagine que o criador venda o filhote e, por um infortúnio, o filhote venha a óbito! Isso será um enorme problema para o criador. Poderia ter até sua imagem arranhada.

Para minimizar esse efeito, o criador teria de ser bem claro com o proprietário quanto aos riscos e ser muito metódico com o veterinário que efetua o procedimento para que cumpra os protocolos da cirurgia com rigor.

Cultura do Comprador

Pagar caro por um animal e ele vir castrado é algo que para nós, brasileiro, é um pouco difícil de aceitar.

Nesse ponto cabe ao criador educá-lo sobre a enorme vantagem, pois o criador já está fazendo o procedimento, assumindo o risco e efetuando os devidos cuidados. Logo, o valor do filhote poderia ser maior, pois ele entrega mais serviços.

Caberá ao criador ser extremamente persuasivo para convencer o futuro comprador das vantagens em se comprar o animal já castrado pelo valor solicitado.

Venda com garantia de castração

Uma prática que é aplicada por alguns criadores é a venda com cláusulas contratuais explicitando a obrigação por parte do comprador de que ele castre o animal.

Essa cláusula é bem polêmica, pois o Código de Defesa do Consumidor não a reconhece. Além disso, é difícil imaginar que algum criador vá processar um cliente sobre o não cumprimento dessa cláusula.

A não entrega do pedigree, ou com alguma observação no pedigree, não garante em absolutamente nada de que o proprietário irá castrar ou mesmo que não irá acasalar o animal.

Portanto, deixar para o proprietário a responsabilidade da castração é uma ação que tira do criador os riscos e custos envolvidos. Mas na prática, pode ser muito ineficaz.

Como fazer a venda do filhote castrado ?

O mais recomendado é que a venda seja realmente feita com os filhotes já castrados. Mas para isso o criador deve estar muito bem preparado.

– Ele deve ter planejado muito bem a engenharia de custos envolvidos.

– Ter um veterinário de confiança e que seja parceiro de fato nessa política.

– Elaborar as informações e discursos certos para os interessados nos filhotes.

Sem ter esses 3 itens muito bem resolvidos, dificilmente o criador irá conseguir praticar essa cultura. Pois no terceiro cliente que chegar dizendo que o “criador concorrente” vende o mesmo animal inteiro e pelo mesmo preço, a boa intenção pode ser rapidamente eliminada pela necessidade da venda.

Avalie se você já tem esse 3 itens bem resolvidos. Caso contrário procure conscientizar os futuros compradores da importância da castração.

Quanto mais criadores conseguirem atingir esse ponto, mais difícil será a geração desenfreada de animais de rua. Poderá não resolver 100% o problema, mas com certeza será uma contribuição valiosa!

Eduardo Antunes

CEO do SistemaPET, Criador desde 1997. Bacharel de TI pela UFPEL 1998. Especialista em Marketing Digital.