segunda-feira, outubro 7, 2024
Veterinário

Acasalamentos Seguidos

Freqüência de Acasalamentos

Frequentemente é dito que efetuar acasalamentos seguidos de uma cadela é algo próximo aos maus tratos. Que essa ação força demais as cadelas e as exaurem fisiologicamente. Mas isso é de fato verdade ou algo falado sem nenhum fundamento?
Vamos analisar alguns fatos sobre quando é mais recomendado pular ou não cios e quando efetuar os acasalamentos.

Ideologia da Criação

Dependendo do tipo de criação que se quer fazer, há diferentes formas de se planejar os cruzamentos. Há criadores que se apegam a 100% dos seus cães de uma forma a não imaginar que aquele cão irá pra casa de outra pessoa. Mesmo sabendo que esse cão poderia ter uma vida melhor lá, com um dono “exclusivo” pra ele e dormindo na cama do novo tutor. Além de espaço e dedicação total pra ele.

Criadores assim, que se apegam 100% aos seus cães, geralmente escolhem fazer cruzamentos mais tardiamente, usando um esquema de criação chamado “síntese”. Isso faz com ele comece a criação com pouquíssimos cães, em geral somente uma fêmea bem selecionada, e sempre ficam com um filhote da ninhada. Em geral usam machos de outros canis para cobertura.

Para não se encherem de cães em um curto período de tempo, tendem a tirar 1 ou 2 crias somente de cada cadela quando ela já tem próximo dos seus 3 anos. Isso garante que terão um número limitado de cães até que o primeiro fique velhinho e morra e a nova geração cresça e tenha ninhadas novamente. Por exemplo:

1º ano – uma cadela (1 cão)

3º ano – a mãe e uma filha (2 cães)

6º ano – Avó, mãe, filha (3 cães)

9º ano – bisa, avó, mãe, filha(4 cães)

12º ano – trisa, bisa, avó, mãe, filha(5 cães)

15º ano – tatara, trisa, bisa, avó, mãe, filha(6 cães)

18º ano – um dos cães mais velhos a essa altura já deve ter morrido e se mantém um número de 6 cães, mais ou menos, durante todo o processo.

Definitivamente essa é uma estratégia para criadores que não têm pressa! Que querem já criar suas próprias linhas de sangue e deixam uma possibilidade grande para a aquisição de mais cães com um número limitado de animais em sua casa, conseguindo administrar eles de forma duradoura e que sigam com seus criadores até o final de suas vidas.

Planejando Aposentadoria Precoce

Outra opção é antecipar as cruzas planejadas para as cadelas e aposentá-las/castrá-las antes dos 4 anos. Nessas situações o ideal é o criador encontrar lares responsáveis para os cães. Caso contrário em um determinado momento, haverá tantos cães e gastos que, caso o criador não tenha outra fonte de renda bem boa, poderá passar por dificuldades financeiras. Correndo o risco de diminuir a qualidade de vida dos seus cães, obtendo uma ração de pior qualidade ou até mesmo espaço físico reduzido para os cães. Além de não conseguir dedicar tempo e carinho a todos os cães do plantel.

Há muitas pessoas (e até mesmo criadores) que acham injusto ou errado o criador doar os cães depois de “tirar” as crias, porém aqui o ideal é se avaliar o que é melhor pro cão! Nenhum criador consciente irá doar seus cães a qualquer um sem estrutura e responsabilidade!

Se não há adotante digno e ideal para o cão, que proporcionará uma qualidade de vida melhor do que o criador, então, deve permanecer no canil até ficar velinho e morrer. Mas se há a chance de um cão de viver bem, com limpeza, comida, espaço e cuidados em outro lugar, porque não? Ter um tutor exclusivo pra ele com direito a passeios regulares e dormir no sofá de casa, por que não permitir que o cão tenha essa vida ainda melhor do que no canil (que já é boa)?

Então, como funcionaria essa forma de criação:

Cada cadela teria no máximo 4 ou 5 crias durante toda a vida começando com 1 ano (raças pequenas) e 18 meses (raças grandes) com exames prévios dos animais para a questão de doenças hereditárias. Poderiam ser feitas até 2 crias seguidas, desde que a cadela estivesse em ótimo estado pós desmama, e se anteciparia toda a reprodução dela para a contribuição do plantel, seleção do criador e aposentadoria cedo.

18 meses: 1ª cria

2 anos: 2ª cria

3 anos: 3ª cria

3,5 anos: 4ª cria

Vale lembrar que:
*após a 4ª ou 5ª ninhada, o criador faria a castração da cadela e a encaminharia pra doação ou ela permaneceria no canil como estimação;
*com 2 anos de idade, o criador teria que refazer os exames definitivos da cadela;

Dessa maneira essa cadela poderia ser castrada com menos de 4 anos, encaminhada pra doação ainda nova com altas chances de adaptação ao novo tutor e sem necessidade de cuidados senis. Caso o criador decida ficar com esse animal, então ela poderia permanecer com o criador como pet ou até mesmo participar de eventos e exposições. Já madura, seria uma cadela com muito mais chances pra eventos, pois está totalmente formada e estruturada e com temperamento estabelecido. O criador aproveitaria a melhor fase da cadela ainda nova no sentido de óvulos, partos, aleitamento mais saudáveis e a cadela com condições físicas melhores pra geração de filhotes.

Saúde com Acasalamentos Seguidos

Mas é bom efetuar acasalamentos seguidos? Muita gente pergunta isso e a minha resposta é sempre DEPENDE! Há vantagens e desvantagens ao se fazer isso!

Há cadelas que ciclam com menos de 6 meses de intervalo entre cio e isso muitas vezes é um problema, pois não há tempo de a cadela se recuperar do desmame dos filhotes para ter uma nova gestação.

Fisiologicamente o útero das fêmeas se renova em no máximo 2 meses pós-parto e isso indica que do ponto de vista reprodutivo ela já poderia gestar tranquilamente novamente, porém há outros fatores que podem prejudicar o estado físico dela e não só a recuperação uterina que seria o desgaste dela com a ninhada e o número de filhotes e produção de leite.

Todo criador deve ter percebido que apesar de a cadela “diminuir” de tamanho logo após o parto, ela não se prejudica tanto quanto quando os filhotes estão para serem desmamados e isso é mais comum em cadelas com grande número de filhotes. Se uma cadela no final da gestação está com 40kg, pós-parto ela pode chegar a 30kg, mas perto do desmame essa mesma cadela pode estar com 25kg ou menos mesmo comendo o triplo do que comia no início do pós-parto.

Nessa situação é prejudicial pra cadela ter uma nova gestação, pois não há condição física ideal pra levar a gestação de forma saudável, além de diminuir o número de filhotes e haver complicações pra mãe. O ideal para se tirar cruzamentos seguidos é ver se a cadela pós desmame, ou antes de entrar no cio, está ganhando peso de forma significativa.

Flushing nos Acasalamentos Seguidos

Poucos criadores sabem do efeito “flushing” que efetuar acasalamentos seguidos traz. Esse termo é usado para animais de produção quando se aproveita o ganho de peso constante da fêmea após o desmame dos filhotes para assim o corpo entender que haverá “época de fartura” e liberar mais óvulos para a fecundação. Isso mesmo! Após uma gestação, quando a cadela estiver pra entrar novamente no cio, se ela estiver ganhando peso gradativamente isso faz com que haja um número de filhotes maior!

Vale lembrar que fazer acasalamentos seguidos, todo cio, não garante sempre ninhadas numerosas e, sim, o contrário, por esgotamento da cadela mesmo havendo uma alimentação correta e balanceada em todas as fases da criação. O ideal seria tirar 2 seguidas e pular uma, 2 seguidas e castrar.

Monitorando a Saúde da Cadela

Outro ponto importante que acho que deve ser comentado é que cadelas gordas tendem a ter menor número de filhotes por ninhada além de terem diversos outros problemas no parto, aleitamento e filhotes muitas vezes mais fracos ao nascimento. Na veterinária temos um parâmetro que é o ICC (índice de condição corporal) que varia entre 1 e 5, sendo o ideal pra todo o período reprodutivo o valor de 3 a 3,5. Menos que isso pode levar a reabsorção ou esgotamento da cadela e, mais que isso, problemas de parto, produção de leite e colostro e número de filhotes reduzidos.

Conclusão

Portanto, para os criadores que tem a política de aposentadoria precoce das cadelas, efetuar acasalamentos seguidos, com o devido acompanhamento médico, não é um problema ou de forma alguma maus tratos. Muito pelo contrário, poderá propiciar a cadela uma qualidade de vida até maior que teria em ciclos longos de acasalamento.

Entretanto cabe a cada criador efetuar o devido planejamento de como desenvolver os seus programas de reprodução dos plantéis. Mas sem preconceitos e procurando por conhecimento. Sabendo dos riscos e benefícios de cada decisão e focando no bem estar de cada um de seus animais.

Sem contar que é fundamental ter ferramentas que permitam acompanhar de perto o desenvolvimento dos cios, ganho de peso, etc.

Eduardo Antunes

CEO do SistemaPET, Criador desde 1997. Bacharel de TI pela UFPEL 1998. Especialista em Marketing Digital.

4 thoughts on “Acasalamentos Seguidos

  • Muito bom e esclarecedor esse artigo! Poderia ter um artigo sobre como aumentar o ganho de peso da cadela que parou de amamentar. Sendo que a ingesta de ração foi dobrada e mesmo assim após os 4 meses ainda não se recuperou

  • Claudia Kneese

    Adorei a matéria, gostaria de ver ela publicada no face para leigos e protetores aprenderem um pouco!

  • Marcelo Martin

    Boa tarde!

    Excelente artigo! Parabéns!
    Gostaria de tirar uma dúvida.
    Conheço alguns bons criadores que costumam fazer o acasalamento em cios alternados começando com 1 ano e procurando até 5 anos. Ou seja, a cadela terá 5 gestações com um ano de intervalo. Este método também seria o ideal?

    Obrigado

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