quinta-feira, novembro 21, 2024
Veterinário

Vacinação em Cães – Novo Protocolo Sugerido

Diretrizes para a vacinação em cães, conceitos e indicações

O presente artigo é um resumo sobre as indicações de Vacinação em cães baseado na última publicação do Grupo de Diretrizes de Vacinação (VGG) da Associação Veterinária Mundial de Pequenos Animais (WSAVA). Tais diretrizes representam linhas básicas de orientação apoiadas por evidencias científicas, porém cabe ao Médico Veterinário adaptá-las as diferentes realidades clínicas, regionais e suas particularidades.

Vacinação em animais

A Vacinação é considerada um procedimento médico e por tanto deve ser realizada por Médicos Veterinários. Os objetivos de um programa de vacinação é o de se vacinar o maior número possível de animais na população de risco (Imunidade de Rebanho), não realizar vacinas a mais do que o necessário e vaciná-los apenas contra os agentes infecciosos em que realmente há risco de exposição e de doença.

Grupo de vacinas conforme a indicação (Tabela 1):

  • Vacinas essenciais:  as doenças envolvidas possuem significativa morbidade e mortalidade, são distribuídas amplamente nos territórios ou são exigidas por lei.
  • Vacinas não essenciais (opcionais): devem ser consideradas de acordo com o risco de exposição, conforme distribuição geográfica da doença e no estilo de vida do animal.
  • Vacinas não recomendadas: são aquelas contra doenças que respondem prontamente a tratamento, os riscos de efeitos colaterais são maiores que os benefícios ou não há evidencias quanto a eficácia da vacina.
Tabela 1. Divisão dos grupos vacinas quanto à sua indicação
Essenciais Não Essenciais Não recomendadas
Cinomose Leptospirose Coronavirus
Parvovirose Bordetella bronchiseptica (preferencial intranasal) Giárdia
Raiva Vírus da gripe canina (CIV; H3N8
Parainfluenza
Leishmaniose

Imunidade Passiva Natural

Logo nas primeiras horas após o nascimento os filhotes devem se alimentar do colostro materno, pois é por meio do colostro que ele receberá os anticorpos (imunoglobulinas) que o protegerão em suas primeiras semanas de vida contra as principais doenças infecciosas. A eficiência e a duração da proteção conferida pelo colostro dependerá de alguns fatores, tais como:

  1. Qualidade do colostro: diretamente relacionado a imunidade da própria mãe;
  2. Quantidade de colostro ingerido: dependerá do tipo do parto (se natural ou cesáreo), da habilidade materna, do vigor dos filhotes, do tamanho da ninhada, dos cuidados com a ninhada durante e logo no pós-parto, etc;
  3. Momento em que o colostro foi ingerido: os anticorpos do colostro só transpassam a barreira intestinal do filhote nas suas primeiras horas de vida, após esse período a barreira intestinal se fecha impedindo qualquer absorção de anticorpos, por tanto quanto mais cedo o filhote receber o colostro mais eficiente será sua absorção.

Janela de Suscetibilidade

Com o passar das semanas o título (quantidade) de anticorpos recebidos pelo filhote através do colostro vai naturalmente reduzindo.

O que chamamos de Janela de Suscetibilidade é a fase em que o filhote já não tem mais os títulos de anticorpos maternos em níveis suficientes para impedir uma infecção ambiental, porém esses anticorpos ainda estão altos a ponto de bloquear a indução da imunidade por meio das vacinas comerciais, ou seja, é uma fase crítica para o filhote do ponto de vista sanitário.

Estudos demonstram que para a maior parte dos filhotes essa Janela está entre 6 até 12 semanas de vida, sendo que para 10% dos animais ela pode estender-se até as 16 semanas (Gráfico 1).

As idades consideradas dentro da Janela de Suscetibilidade tem fundamento científico e são utilizadas de forma geral para toda a população, pois o uso de testes sorológicos individuais para determinar a queda da imunidade passiva e momento exato para a aplicação da vacina para cada cão ainda não fazem parte do uso comum na rotina clínica Veterinária, até mesmo por questão de custo, logística, entre outros.

Gráfico 1. Representação de 02 grupos de cães (A e B) com diferentes títulos de anticorpos recebidos via colostro e seu declínio gradativo no decorrer das semanas. As setas horizontais representam os títulos necessários para proteção contra os vírus de campo e títulos que ainda bloqueiam a ação dos vírus vacinais.

Esquema Vacinal em Filhotes de Cães

Considerando variabilidade que pode ocorrer na Janela de Suscetibilidade para cada indivíduo e os riscos que as principais doenças podem representar para uma ninhada ou até mesmo para um plantel, o grupo de especialistas do WSAVA recomenda o início da vacinação com vacina polivalente (múltipla) por volta de 6 a 8 semanas de idade, repetindo com intervalos de 2 a 4 semanas entre as doses até que a última dose seja realizada por volta das 16 semanas, dessa forma, conforme a idade de início da vacinação e o intervalo entre as doses, é possível que cada filhote receba de 3 a 5 doses desta vacina (Tabela 2).

Essas múltiplas doses são nada mais do que uma tentativa de acertar o momento em que os níveis de anticorpos maternos já não tenham mais o efeito de “bloqueio” contra o vírus vacinal e assim proteger o filhote antes que esse tenha contato com o vírus vivo no ambiente.

Depois de concluído o esquema de vacinação por volta de 16 semanas, as Diretrizes ainda recomendam que uma dose de “reforço” seja aplicada entre os 6 a 12 meses de idade garantindo a proteção dos cães que por ventura ainda estavam com títulos de anticorpos maternos acima do limite no momento da última dose do programa inicial.

Anteriormente essa dose de “reforço” era indicada somente aos 12 meses de idade ou 12 meses após a última dose da vacina polivalente.

Em casos de regiões ou criações com elevado desafio sanitário se indica ainda uma vacinação precoce exclusiva contra Cinomose + Parvovirose com 4 semanas de idade, conforme indicação do laboratório, utilizando-se uma vacina altamente imunogênica capaz de ultrapassar a barreira de anticorpos maternos e iniciar a formação de anticorpos de forma ativa.

Tabela 2. Esquema de vacinação essencial para cães entre 6-8 semanas de idade e revacinados a cada 3 semanas
Idade do filhote na 1ª vacinação Esquema da vacinação essencial
6 semanas 6 semanas, 9 semanas, 12 semanas, 16 semanas e então 26 ou 52 semanas
7 semanas   7 semanas, 10 semanas, 13 semanas, 16 semanas e então 26 ou 52 semanas
8 semanas   8 semanas, 11 semanas, 14 semanas, 17 semanas e então 26 ou 52 semanas
OBS: Representação de alguns dos possíveis esquemas de vacinação sugerido pelo WSAVA. A tabela completa encontra-se no arquivo indicado. Nesse esquema não foi considerado os casos de indicação da vacinação precoce para cinomose e parvovirose com 4 semanas de idade.

Esquema Vacinal em cães adultos

Conforme as diretrizes do WSAVA, a partir da realização do “reforço” da vacinação entre os 6 a 12 meses de idade, só seria necessário nova dose das vacinas essenciais a cada 03 anos devido a longa duração da imunidade vacinal para cinomose e parvovirose. Já para alguns antígenos vacinais a duração da imunidade é menor e a revacinação indicada é anual como, por exemplo, para Leptospirose, Parainfluenza e Raiva.

Considerando que as vacinas comerciais polivalentes apresentam vários antígenos e que cada antígeno vacinal confere uma imunidade por diferentes períodos no organismo, esse se torna um aspecto a ser avaliado pelo Médico Veterinário quanto ao protocolo a ser seguido em cães adultos.

Em resumo, as orientações das Diretrizes do WSAVA é que se amplie o número de doses vacinais ou distribuição delas durante a Janela de Suscetibilidade dos filhotes, porém para a vida adulta do animal as Diretrizes apontam que se faça uma redução na frequência do uso de vacinas essenciais (de anual para trienal), que se faça o uso quando realmente necessário das vacinas não essenciais e que não se utilize as vacinas não recomendadas.

Ainda assim, a eleição das vacinas a serem utilizadas e suas frequências devem seguir os critérios Veterinários que o justifiquem conforme cada caso.

Controle

É Fundamental que o controle das Vacinas dos Filhotes e dos Adultos seja rigidamente controlado, independentemente do protocolo adotado. Para isso o SistemaPET é uma ferramenta de grande destaque para o criador. Seus alertas e controles são fundamentais para uma boa gestão por parte do criador.

Referencias Bibliográficas:

1 https://www.wsava.org/WSAVA/media/PDF_old/2015-WSAVA-vaccination-guidelines-Full-version-Portuguese.pdf

Michelle da Costa Kasdorf

Médica Veterinária - UFRGS - 2007 Especialista em Neonatologia de Cães e Gatos - 2015 Criadora Especialista em Bulldog Inglês